28 de fev. de 2009

PRÁ NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES

Olá amigos . . . Quando crianças vivíamos, sem saber, o romantismo de uma cidade modesta, de muito trabalho e de um natural e agradável clima de confiança recíproca e paz coletiva. A cidade era originalmente assim e não conhecíamos o oposto dessa harmonia rotineira. Sequer percebíamos o valor do céu que a cada dia tínhamos à disposição nêsse nosso pequeno pedaço terrestre. Nossa casa, a familia, a escola, a igreja, o time de futebol do bairro, os dois times da cidade e os dois cinemas, Palacio e Colon, nos bastavam. Éramos felizes. Aqui as pessoas cumprimentavam-se sem que, para isso, necessitassem, primeiro, se conhecer. Em nossa vida paradisíaca, um eventual furto, trazia consigo muito mais surprêsa, decepção e lamento, do que indignação ou mesmo àquela sensação ruim de perda imerecida. Pessoas em acalorado confronto verbal, agressão física mútua ou que chegassem ao extremo de provocar ferimento mortal, o que era uma raridade, causavam grande abalo no pacífico chão nosso de cada dia. Parecia mesmo um terremoto. Era um ferimento que doía na nossa paz. A cidade se entristecia. Um ato de vandalismo, fato difícil mas não impossível, gerava indignação e ira. Não importava contra o que a afronta era cometida. Na vida pessoal, dois fatos que se descobertos chegassem a domínio público, constrangiam profundamente não só aqueles explícitamente envolvidos, como também suas familias. Roubo e adultério. Nêsses casos, era vida dura. Ou os envolvidos, sem temor, persistiam no enfrentamento às consequências do êrro praticado ou virando às costas à implacável sentença popular, buscariam em outro ponto o reencontro com a serenidade perdida. O movimento nas ruas tinha, em si mesmo, ... sem câmeras fotografando, sem radares, sem tachões redutores de velocidade, sem essa "chuva" de sinaleiros de todos os tipos, sem faixas de pedestres e sem guardas, mais multando que orientando, ... um procedimento admiravel de calma e de mútua respeitabilidade. Os pais, durante todo o período escolar, não tinham nenhum tipo de apreensão. Não havia a preocupação e até o mêdo dos nossos dias. Não existia o trânsito irresponsável e violento. A qualquer hora, caminhando, pedalando nossa bicicleta, pilotando a moto ou dirigindo o carro, nos sentíamos bem, despreocupados e tranquilos. Também não havia o assédio ousado e escandaloso de "passadores" e traficantes de drogas cercando, abordando, infernizando e desgraçando a vida de adolescentes e jovens que caminham para a vida adulta. Não tínhamos, vale lembrar, o sintoma latente de insegurança pela ação desavergonhada e despreocupada de figuras imorais, inescrupulosas e agressivas, que à distancia observam as indefesas vítimas escolhidas para consumação de seus sórdidos objetivos, no caminho da escola ou nas proximidades de nossa casa. Mas o outro lado daquela calmaria que pudemos viver em nossa infancia no solo calmo que nascemos e crescemos, ... começamos a conhecer já faz tempo. De lá, prá cá, fervem à nossa volta atitudes de desrespeito e desamor. Crianças e idosos, são os que mais sofrem. O desenvolvimento desenfreado, em muitos aspectos afrontando leis e pessoas, tem estatísticas crescentes, alarmantes, assustadoras. O meio ambiente, os sistemas naturais, de junção implícita na manutenção sadia do planeta e da vida, são desrespeitados e devastados em nome da ambição, do dinheiro e do poder humano e limitado. Sim limitado. O sujeito vive 60, 70 ou 80 anos e desgraça a vida de uma grande parte da humanidade por incalculável número de anos. Um incontável contingente de vilipendiadores da vida, no curto tempo que por aqui passam, deixam rastros irreparáveis de destruição. Por todos os espaços cresce a população e as cidades incham e se espalham. Os govêrnos quase não consequem acompanhar essa realidade que não para. As administrações vem encontrando dificuldades para fazer frente à incontida escalada do progresso, gerador de maiores compromissos e responsabilidades públicas. Temos aí uma alusão bem breve do mundo que tínhamos e do mundo que temos. Uma realidade ontem, outra hoje e qual será a do amanhã ? Não estamos saindo de Joinville, ao norte do estado de Santa Catarina para escrever este texto. Estamos nela. Falamos da cidade onde nascemos. Um dia daqui saimos por circunstâncias profissionais. Pelas mesmas circunstâncias e por mais duas, amor e saudade de nossas origens, acabamos voltando. Desde então, já se foram mais de 25 anos. Transformações aconteceram. Em determinado período, no passar dêsses 25 anos, tivemos o prazer e a alegria de rever e conviver, ainda, com o que sempre esta cidade soube cultivar históricamente por vocação e amor. FLORES ... Numa atitude particular, parei e pensei: Porque entre tantos assuntos ainda não falei delas ? Prá não dizer que não falei de flores, farei isso. Elas merecem. São queridas, meigas, lindas, maravilhosas, perfumadas. Joinville já foi um grande e lindo jardim de muitas flores. Aqui ERA assim... Por onde quer que andássemos, elas pareciam nos acompanhar. Para o lado que virássemos, lá estavam elas. Bonitas, altivas, orgulhosas, protegidas. Sim elas tinham proteção, eram muito bem cuidadas. Tinham tudo o que precisavam para viver. E não faltava o cuidado humano. Nos canteiros, esquinas, repartições públicas, fábricas, igrejas, escolas, em frente às lojas e por todas as praças, elas tinham presença garantida em lugares de destaque. Eram admiradas e respeitadas. Os turistas emocionavam-se com a beleza das flores de nossa cidade. Nossas ruas combinavam com elas. Tinham serviço de assistencia e restauração. Não ficavam esquecidas, abandonadas, esburacadas... E hoje como é ? Joinville é bonita ? Se você a conheceu como a conhecemos, sejamos honestos. Ela era linda demais. Era um imenso, esparso e perfumado jardim. Joinville ERA, aos nossos olhos, bem mais bonita. Era florida, maravilhosa ! Não vivíamos, apenas, das fantásticas orquídeas que sempre valorizaram de forma exuberante nossa cidade. Por elas e por todas as demais flores que tínhamos em abundancia, Joinville celebrizou-se pelo país inteiro como "A CIDADE DAS FLORES". Elas, as flores, não dependiam das praças públicas. Mas as praças públicas em seus realces e detalhes dependiam da beleza de cada uma delas. Com as flores e outros recursos, as praças ganhavam projeção, popularidade e eram pontos de passatempo e entretenimento familiar. Eram redutos de descanso e conversa de adultos, pessoas idosas e casais enamorados. Tinham bancos bons, patrocinados e bem distribuidos. Plantas ornamentais, folhagens selecionadas, flores por todos os lados, ponto público de água (lugar limpo e decente para matar a sêde), e em todas as áreas gramadas, uma grama verdinha, bonita, bem aparada... Sobre as partes "gramadas", líamos plaquinhas diferenciadas com versinhos sugestivos, quase infantis, mas inteligentes e criativos, que ajudavam no respeito ao local. Lembramos de uma dàquelas plaquinhas. Dizia assim: "Quantos quilos você pesa ? Parabéns, está gordinho... Então não pise na grama, você não é passarinho !".... Havia play ground, sorveteria, roleta, carrinho de pipoca, sanitário público limpo e odorante ... Meu Deus, quanta SAUDADE ! Para onde foram tantas benesses ? Por favor, alguém responda: O que fizeram com nossa cidade ? Era só zelar, manter, aperfeiçoar... Porque acabaram ou deixaram acabar essas coisas simples mas tão úteis e importantes para o povo ? POR FAVOR... tem aí entre vocês, alguém com pelo menos algum poder de convencimento para sentar e conversar sobre essas coisas com o prefeito Carlito Merss ? Para onde foram nossas praças, nossas flores ? O que aconteceu com a proteção e a valorização do bem público ? Do meio ambiente ? O que fizeram com os nossos finais de semana ? Para onde foram nossos domingos ensolarados, de céu azul e felizes ? Onde estão os bancos e as árvores sombreiras que nos recebiam em nosso cansaço, nos brindando com momentos aprazíveis e reabilitantes ? Nunca exigimos NADA ! O pouco que tínhamos, nos bastava. Há muito, não temos mais. Porque senhores ? O que foi feito de nossa alegria ? E de novo por favor: Não é correto, justo e sobretudo honesto, confundir "alguma comodidade" (tipo centreventos, arena, areninha..) e mais uma ou outra coisa por aí, ... com QUALIDADE E LIVRE LAZER para a familia. Como diria o poeta contemporâneo Agenil Silva de Guarapuava/PR: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". E prá concluir, sabe o que mais ? ESTAMOS INDIGNADOS ! INCONFORMADOS ! QUEREMOS NOSSA CIDADE DE VOLTA ! COM SUAS PRAÇAS, SUAS FLORES E SUA ALEGRIA. DEVOLUÇÃO JÁ !

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